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Butantan está pronto para produzir vacinas contra o coronavírus

A vacina ou um tratamento efetivo e comprovado contra a covid-19 (doença causada pelo novo coroanvírus) é o maior desejo de toda a humanidade nos dias de hoje. Enquanto muitos remédios e protocolos de tratamento estão sendo testados, uma vacina, desenvolvida pela Universidade de Oxford (Inglaterra) parece estar na frente desta corrida.

A vacina começará a ser testada no Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro) em 2 mil voluntários nesta semana. Esta será a terceira e provavelmente, última fase antes ser produzida em larga escala.   Em São Paulo, A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) será a parceira que fará os testes.  

Na última sexta-feira, durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes, foi dito que o Instituto Butantan já está pronto para iniciar a produção da vacina do Brasil. Porém, mais detalhes só devem ser conhecidos nas próximas semanas.  Entretanto, não há previsão para o início da fabricação das doses das vacinas, que devem ser algumas semanas  ou meses.

A fase 3 dos testes de uma vacina, normalmente  leva de 12 a 18 meses e é fundamental para determinar o tempo que a vacina garante a imunidade à doença e  assim saber quantas doses serão necessárias. Mas, por estarmos em uma pandemia, estes testes devem ser acelerados e é possível que até o final deste ano já esteja em produção.

A aposta nos resultados, que já foram aprovados em duas fases, sendo uma delas com humanos (mas poucos) , é tanta que a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca já iniciou a produção das doses mesmo sem a aprovação final. Com isso, assim que for aprovada já haverá doses prontas para ser aplicadas. O laboratório tem a meta de produzir 2 bilhões de doses.

Veja a entrevista da reitora da Unifesp

Por EBC (Agência Brasil)

Agência Brasil: Qual será o papel da Unifesp no processo de desenvolvimento da vacina de Oxford?
Soraya Smaili: A vacina foi iniciada e desenvolvida até esse estágio em que ela está, lá na Universidade de Oxford. O papel da Unifesp é integrar agora a fase 3 de testes, que é um estágio em que você aplica a vacina em voluntários humanos. É uma fase já avançada do desenvolvimento, porque já passou por laboratório, pelas células, já passou pelos animais, já passou pelas outras fases clínicas. Agora está na fase pegar indivíduos voluntários que vão receber a vacina e que serão acompanhados por alguns meses para poder verificar se a vacina é eficaz, se ela consegue proteger contra o coronavírus.

Agência Brasil: Por que o país e a Unifesp foram escolhidos para participar dessa fase de testes?
Soraya Smaili: Inicialmente é por conta da liderança da doutora Lily Yin Weckx, que é a coordenadora do estudo no Brasil e é coordenadora do laboratório do Centro de Referência em Imunização da Unifesp. Esse centro tem conexões com diversos outros pesquisadores do Reino Unido e da Europa. E também por conta da doutora Sue Ann Costa Clemens, chefe do Instituto de Saúde Global da Universidade de Siena, e também pesquisadora do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Unifesp. Por causa da experiência que elas têm na área e dos estudos que já realizaram anteriormente, com reputação muito boa internacional, o nosso laboratório aqui da Unifesp foi indicado para executar essa fase do teste da vacina.

Reitora da Unifesp Soraya Soubhi Smaili

Agência Brasil: Como a participação brasileira pode agregar conhecimento ao desenvolvimento científico local?
Soraya Smaili: Nós vamos aprender muito com esse processo. Mas, além de tudo, vamos poder participar de um importante trabalho que vai, provavelmente, se tudo continuar correndo bem, em alguns meses ter uma vacina que poderá ser aplicada em toda a população contra a covid-19.

Agência Brasil: Ter participado dessa fase dará ao país alguma prioridade para que a população seja vacinada?
Soraya Smaili: Sim, existem algumas conversas nesse sentido. Nós estamos trabalhando para que [seja isso] sim. O fato de estarmos integrando e sermos o primeiro país fora do Reino Unido e também o primeiro laboratório no Brasil a realizar esses estudos, estudos semelhantes a esse não têm nenhum outro no Brasil, torna o país um grande candidato. Essa vacina foi aprovada pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], que é uma agência que é ligada ao Ministério da Saúde, tudo isso, dependendo dos resultados, e com o andamento da pesquisa, dessa fase da pesquisa e dos testes, nós temos grande chance de termos, sim, acesso à vacina. Tendo acesso, nós temos capacidade de produção em larga escala, por meio dos nossos laboratórios nacionais de fato, como o Instituto Butantan, os laboratórios da Fiocruz, entre outros.

Agência Brasil: Quais os prazos para o início e final da pesquisa no Brasil?
Soraya Smaili: Os testes ainda não iniciaram. Isso deve acontecer por volta da terceira semana de junho. Essa fase será a fase de recrutamento. Em seguida, os testes desses voluntários selecionados. Depois, a aplicação da vacina, e o seguimento por alguns meses, até doze meses, para que os resultados possam ser conclusivos. Eu disse até 12 meses, porque a perspectiva é que este período pode ser de doze meses ou talvez um pouco menos.

Agência Brasil: O que a senhora destacaria desse processo que agora envolve o Brasil?
Soraya Smaili: A importância de a gente ter a ciência brasileira, a universidade federal trabalhando para o desenvolvimento de uma vacina, que está entre as primeiras vacinas, entre as mais promissoras das que estão sendo estudadas no mundo todo. Estamos – a nossa universidade está se somando a um esforço global, é uma universidade pública federal ligada ao Ministério da Educação – nos juntando a um esforço mundial para a obtenção de uma vacina que vai beneficiar milhões e milhões de pessoas. Estamos muito orgulhosos, contentes, de termos em nosso país uma universidade que são tão bem equipadas com profissionais tão capacitados, que é um patrimônio do povo brasileiro. Isso certamente temos de salientar. A ciência brasileira é uma ciência de alta qualidade e, por isso, foi escolhida a Unifesp, porque tem essa qualidade, dos nossos pesquisadores. Estamos em um esforço coletivo para superamos esse momento. A ciência brasileira também vai dar a sua contribuição e as suas respostas.

Foto: Alex Reipert

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