Round 6: Muito barulho por nada

Como fãs das telonas de cinema e dos shows lotados em estádios, as plataformas de Streaming e lives não me atraem. Não tenho paciência para acompanhar uma série por horas, meses ou anos. Gosto do imediato, começo, meio e fim.

Mas, nas últimas semanas os grupos de whatsap, sobretudo o das mães das escolas dos meus filhos, e de páginas das redes sociais passaram a reproduzir alertas sobre a série sul coreana Round 6, da Netflix. Nos alertas, a preocupação com temas como pederastia, violência exagerada e outras tantas qualificações me fizeram ligar o alerta. Não para bloquear o Streaming para meus filhos, que aliás, como bons adolescentes, já tinham visto e aposto que mais de uma vez, mas para tentar entender tamanha reprodução.

Antes de rebater ou concordar como que recebia nos grupos, como jornalista precisava assistir a série. Bem, e lá fui eu no final de semana encarar horas de uma maratona, por sorte estava chovendo. Confesso que no final até gostei. Ou melhor, a série me prendeu e me fez querer ver até o final.

Sim, a série é violenta. Tem palavrões? Sim. Tem cenas fortes? Sim. Outro tema que é abordado é o tráfico de órgãos. Já, a pederastia (que é o sexo entre pessoas mais velhas com jovens) confesso que não achei. Mas os críticos, que garanto que nem assistiram a série, vão dizer que há em pelo menos uma cena. Para mim, aquilo não foi pederastia, já que pessoa supostamente vítima não era um adolescente e, bem, o ato realmente não aconteceu. Mas, por via das dúvidas, questionei meus filhos e marido que assistiam comigo, e já tinha visto a série outras vezes, se perdi alguma coisa. Mas nada, realmente também não notaram algo parecido. Então, o que fica, realmente, é a violência.

Violência, mas nada diferente do que muitos acompanham nos programas sensacionalistas de fim de tarde da TV brasileira, com perseguições e a torcida de grande parte dos espectadores para um final no qual o criminoso é atingido por uma bala. Outros filmes já tiveram no posto de vilões, como o Clube da Luta, lançado em outubro de 1999 e que foi o culpado inclusive por um massacre em uma sala do Shopping Morumbi, em novembro daquele ano. O crime que chocou o país na época, foi cometido durante a exibição do filme norte-americano Clube da Luta, protagonizado pelos astros Brad Pitt e Edward Norton, que contava a história de um vendedor de seguros perturbado psicologicamente que passa a frequentar um violento clube de combate.

Mas no Round 6 essas pessoas “perturbadas” não vão para um clube, mas um jogo no qual são eliminadas ao perderem o round. O que parece incomodar é que todas as disputas se passam durante  brincadeiras de crianças, como amarelinha e cabo de guerra, mas com outros nomes que eu realmente desconhecia.

Muito além da violência, eu vi sim, muita crítica social. Basta mudar os personagens, o país, para perceber que o Round 6 não se passa na Coreia do Sul, mas pode ser aqui no Brasil mesmo, ou em qualquer outro onde há uma desigualdade social grave. No primeiro momento pensei até que fosse um jogo no estilo de Big Brother, principalmente pelas roupas dos assistente de jogo e você descobre que sim, também é um reality show e com espectadores.

Os jogadores do Round 6 são aquelas pessoas que diariamente se arriscam no meio dos carros em busca de alguns trocados. Ou até nos lixos atrás de resto de comida. Não sabemos o que está por trás de cada rosto que vemos nas ruas, assim como não sabemos o que levou cada um dos participantes do jogo que se passa na série coreana. Mas sabemos que no final, quem perder o jogo será eliminado e, porque não, da mesma forma que os 456 jogadores de Round 6, que buscavam apenas a sobrevivência ou a resolução de problemas financeiros, de saúde ou de transtorno de personalidade.

 

 

A série, que custou US$ 21,4 milhões (cerca de R$ 100 milhões) à plataforma, mas já rendeu mais de US$ 890 milhões ( cerca de R$ 4,5 bilhões) e milhares de novos assinantes, não precisou de um gênio na direção ou tecnologias mirabolantes na finalização. Em determinados momentos, parecia até um filme pastelão devido ao absurdo de diversas situações. Aliás, o comércio da Coréia do Norte comemora a venda do uniforme verde dos participantes e não estranharia se em breve visse brasileiros com a mesma vestimenta nas ruas.

Mas, como sempre, quem queria de certa maneira censurar, evitar que crianças e jovens não tivessem o acesso á série, conseguiu efeito contrário. Eu, por exemplo, nunca assistiria por vontade própria, mas como fui “obrigada” a matar a curiosidade e confirmar se os alertas quem me chegaram eram verdadeiros, me sujeitei a passar horas na frente da TV. E, no final, a minha conclusão, copiando o título de uma obra de William Shakespeare que amo, aliás, a minha favorita, foi que Round 6 é Muito Barulho por Nada.

Não cabe a mim, neste momento, fazer uma análise do efeito que a série tem sobre crianças e adolescentes. Mas outros filmes e até programas de TV mostram as mesmas coisas e o público mirim acompanha ao lado dos pais.

 

Foto: Reprodução

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