Adolescente do ABC é destaque na literatura nacional

Quem tem mais de 15 anos se lembra de quantos livros já leu até esta idade? E mais:  leu só o que foi recomendado pelos professores para a prova ou por que gostava? Vamos um pouquinho mais longe. Quantos livros você já escreveu até hoje? Acho que pouquíssimas pessoas vão dizer que já produziram uma obra literária. A nossa personagem de Santo André está no seleto grupo de autores de romances do país.

Luiza Garcia Suh, hoje com 14 anos, teve seu primeiro livro editado com 13, “As Fantasias de Allie”. E não é uma obra infanto-juvenil, é um romance denso, em camadas, com personagens complexos e com 700 páginas. No ano seguinte, ela nos brindou com mais um romance, “O Último Pôr do Sol”, um pouco menor, com 460 páginas.

A adolescente não é filha de algum autor famoso, mas de médicos que incentivaram desde seu nascimento o hábito da leitura. Aos três, já conseguia ler. “Eu lia os gibis da Turma da Mônica”, disse Luiza sobre suas primeiras experiências que hoje também incluem Ruth Rocha e Ariano Suassuna. E, como filha de pessoas que trabalham muito, ela aprendeu a ser independente desde cedo, nunca foi podada em relação à tecnologia, o que facilitou a busca por conhecimento e a vontade de colocar no papel, no caso no computador, suas ideias.

Antes mesmo de ter seus livros publicados, seus pais pegaram algumas histórias menores, encadernaram e distribuíram para familiares e amigos. Afinal, quem escreve gosta de ter leitores.

Mas, mesmo com incentivo da família, ter uma habilidade e conseguir depurar seu aprendizado e aperfeiçoar no Brasil é difícil. Apenas no Fundamental II suas redações chamaram a atenção dos professores de Língua Portuguesa e Literatura, que perceberam a maturidade dos textos da aluna.. “E não era apenas na estrutura, ela trabalhava figuras de linguagem que nem tinham sido aprendidas na série que cursava”, destacou o professor Alexandre Vieira, um dos que descobriram o talento da adolescente.

E Alê, como é chamado carinhosamente pelos alunos, foi quem ajudou Luiza nos textos e a incentivou a colocar suas ideias no papel para que se transformassem em um livro. “As obras dela me surpreenderam. Ela retrata histórias de adultos, que ela nunca vivenciou, de épocas diferentes da que vivemos. Ela usa técnicas que aprendeu rapidamente e os livros têm camadas, não são histórias superficiais. As personagens são complexas”, elogia o professor.

 

 

 

Inspiração

As histórias nascem da cabeça de Luiza, não são  contadas por alguém. As músicas e filmes são inspirações. “Sou eclética, não tenho uma estilo de filme ou música favorito”, conta. No fim do segundo romance, ela coloca uma playlist que tem Beatles, Codplay, Carla Bruni, Elton John  e muitas outras que a ajudaram criar as personagens. “Eu escrevo ouvindo as músicas”, conta. As aulas de História também são fontes de inspiração.

Luiza tem um dia-a-dia corrido, com escola regular e cursos extracurriculares. Entretanto, ressalta que criou uma rotina de escrever pelo menos uma hora por dia. “Posso estar em uma festa e chegar tarde, mas escrevo.” Foi assim que concluiu os dois livros em um ano.

As personagens são complexas. “Gosto dos vilões. Eles têm sempre um motivo para serem como são. Nas histórias, todos são um pouco de heróis e vilões ao mesmo tempo”, revela um pouco sobre seu processo criativo. “Eu não leio o que escrevo, termino todo o livro antes de revisar. Gosto de trabalhar em primeira pessoa, uma personagem por vez e ainda interpretar a história como um monólogo”, conta Luiza.

Sobre o futuro, ela já tem outras obras em andamento e gostaria de ser roteirista ou autora de filmes e novelas. “O cinema é sim uma possibilidade”, disse sobre seu destino profissional.

Mas, enquanto ainda precisa terminar o nono ano e o ensino médio, Luiza diz que gostaria de mostrar o que faz para outros estudantes, sendo estímulo para muitos que escrevem, mas não mostram para ninguém por vergonha ou por não saber como correr atrás de divulgar seu trabalho.

Para Alê, há muitos jovens talentosos que ficam esquecidos nas salas de aula. “A estrutura da educação no Brasil não permite aos professores trabalharem a criatividade dos alunos”, desabafa o professor.

Os livros da Luiza podem ser encontrados na Amazon e foram lançados pela Editora Lux.

 

 

Foto: Eagle News

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