O dilema entre economia inflacionária e juros altos

SP 22/7/2022 – Isto haverá de ter consequência, portanto, creio que o desejo do Fed de entregar um soft landing tem ficado cada vez mais distante da realidade

O Fed vem mostrando uma preocupação crescente com o risco de desancoragem das expectativas e seu potencial impacto sobre o processo de desinflação desejado

O mês de junho foi marcado por uma forte correção da bolsa brasileira, seguindo o movimento global. “No noticiário local, o destaque foi o esforço do Governo em criar uma agenda mais populista às vésperas da eleição. Nesse sentido, o Congresso começou o trâmite de uma PEC com benesses sociais, além de ter aprovado um projeto de lei que reduz impostos sobre o preço dos combustíveis. Assim, além do impacto fiscal em si, o avanço da pauta foi visto como mais um sinal frágil do regime fiscal da economia brasileira. No âmbito internacional, o mercado começou a discutir mais efusivamente um cenário de recessão da economia global e, principalmente, da americana”, diz o economista Felipe Bernardi Capistrano Diniz.

O Banco Central americano (Fed) continuará dando mais peso para o combate à inflação e entregará as altas de juros necessárias, conforme tem sido sinalizado. “Isto haverá de ter consequência, portanto, creio que o desejo do Fed de entregar um soft landing tem ficado cada vez mais distante da realidade”, diz Felipe Bernardi Diniz. Por um lado, uma série de dados de atividade apontaram para uma deterioração precoce do consumo das famílias, mas, por outro, a inflação segue sem sinais de arrefecimento. Em relação à inflação, o Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI) voltou a fazer novo pico devido à pressão de combustíveis, e tem mostrado uma disseminação cada vez maior, com grupos mais inerciais revelando dinâmica mais desafiadora. Além disso, o Fed vem mostrando uma preocupação crescente com o risco de desancoragem das expectativas e seu potencial impacto sobre o processo de desinflação desejado.

Preocupado com a piora do cenário de inflação, o Fed se afastou de seu forward guidance prévio e acelerou a alta de juros para 75bps em junho, levando a taxa base para 1.50%. Os discursos dos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto dos EUA (FOMC) vêm indicando mais uma alta dessa magnitude em julho, mostrando que nessa queda de braço entre atividade e inflação, o Comitê segue dando mais peso para a última.

“No primeiro semestre de 2022, o ajuste de preços dos ativos globais nos remete a correções dignas de grandes crises e, de certa forma, desassociado dos indicadores econômicos como emprego e crescimento atual. Ao mesmo tempo que o S&P e Nasdaq caíram 20,8% e 29,9% no semestre e a taxa de juros americana subiu 150 bps para 3%, o nível de emprego se mantém perto das mínimas e o crescimento para este ano ainda é positivo. Por outro lado, vivemos uma das maiores crises energéticas desde a década de 70, que levaram o petróleo a subir +40%”, assevera Felipe Bernardi Diniz.

Diniz completa dizendo que os investidores precisam estar atentos porque os períodos de maior adversidade nunca são agradáveis de serem experimentados, porém o medo e o estresse nos mercados são um dos principais ingredientes para o surgimento de boas oportunidades e, consequentemente, bons retornos futuros. “Com a devida disciplina e cuidado de sempre, ajustes momentâneos devem ser feitos nos portfólios”.

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