Toyota anuncia saída de São Bernardo, a melhor cidade para indústrias do país

A Toyota divulgou nesta terça-feira, 05 de abril, que vai fechar a unidade de São Bernardo e concentrar suas operações no interior de São Paulo, nas cidades de Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz. Os cerca de 550 funcionários que atuam fábrica poderão ser transferidos para as outras cidades, casos desejem.

A iniciativa, segundo a empresa, tem por objetivo buscar mais sinergia entre suas unidades produtivas e faz parte de seu plano em busca de mais competitividade frente aos desafios do mercado brasileiro e da sustentabilidade de seus negócios no país. A mudança será feita de forma gradual a partir de dezembro de 2022 com conclusão prevista para novembro de 2023. Atualmente, a planta de São Bernardo é o local onde são produzidas peças que equipam modelos produzidos no Brasil, Argentina e Estados Unidos.

São Bernardo vem há mais de 20 anos perdendo indústrias de grande porte e transformado os espaços perdidos em comércios ou empreendimentos imobiliários. Em 2001 foi a Multibras, que produz as marcas Consul e Brastemp, e que cortou 1100 funcionários diretos da planta do país. Em seu lugar foi erguido o São Bernardo Plaza Shopping.

Em 2019, foi a vez da Ford deixar a cidade e causar a demissão de cerca de 3 mil funcionários. O terreno foi vendido para a construtora São José e está se transformando em um centro de logística.

A área da Toyota, segundo a empresa,  também será colocada à venda assim que a transição for concluída e deve, mais uma vez, dar espaço para o setor de comércio ou serviços.

O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, em nota, disse que  lamenta a decisão da empresa, uma vez que a marca inaugurou sua fábrica no município em 1962 e foi a primeira unidade construída fora do Japão. Além disso, os representantes da empresa sempre foram bem acolhidos e recebidos pela Administração Municipal, o que não justifica a sua desmobilização da cidade. O prefeito ressaltou  também que irá procurar o presidente da Toyota do Brasil, Rafael Chang, visando mudar essa decisão da companhia.

Tanto na saída da Multibrás como na da Ford, as sedes no Brasil e  mundiais foram procuradas pela administração e sindicato com a intenção de reverter a situação. Mas, por ser uma decisão superior, não há o que ser feito.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC culpa a falta de uma política que discuta a industrialização do país como um dos motivos para a saída da Toyota. A direção do Sindicato afirma que recebeu com surpresa a notícia do fechamento da empresa em São Bernardo . Em nota, a entidade afirma que a montadora toma a decisão de forma irresponsável com a falsa justificativa de otimização de custos. Não há motivos plausíveis para o fechamento da planta, que é a primeira fábrica da Toyota fora do Japão.

Nos últimos anos, em todas as negociações com o Sindicato, a Toyota vinha insistindo que a planta não fecharia e que havia planos para a unidade e seus trabalhadores.  A empresa, segundo a entidade dos trabalhadores,  chegou a comunicar que os produtos atuais garantiriam a permanência da fábrica pelos próximos três anos e afirmava que a unidade era produtiva, competitiva e lucrativa.

“Em todas as conversas com a montadora, pautamos questões relacionadas a investimento na planta. Acreditamos que a empresa poderia reorganizar a produção para se manter em São Bernardo ou trazer investimento, assim como vem fazendo em outras plantas. Há outras alternativas que não o fechamento. Todos os argumentos são injustificáveis! “ diz ainda a nota do Sindicato

Para a diretoria do Sindicato, a falta de políticas voltadas para a indústria nas esferas estadual e federal acentua a situação. A entidade afirma que  tem pautado políticas públicas que promovam o crescimento do setor industrial e garantam que as fábricas existentes possam se manter e até receber investimento, porém nem o governo do Estado nem o governo federal têm se movimentado em defesa da indústria.

“A indústria de transformação que já representou um percentual elevado no PIB brasileiro hoje não passa de 10%. Isso é falta de uma política industrial. O Brasil necessita urgentemente de uma política industrial para que o setor possa voltar a gerar empregos. O ABC é mais um reflexo disso! “, completa a nota;

O Sindicato se reuniu na tarde desta terça-feira com os trabalhadores e espera que a empresa reveja sua decisão. O Sindicato está aberto para buscar alterativas para a permanência da Toyota em São Bernardo.

Apesar de estudo da FGV ter apontado que São Bernardo é uma cidade propícia para a indústria, a realidade tem se mostrado outra. O município tem atraído redes de supermercados, de lojas e não as indústrias. O estudo aponta os pontos positivos, mas não há uma política efetiva que discuta a mudança do perfil econômico da cidade.

A questão que deve ser discutida é como gerar renda. O setor industrial paga cerca de R$ 4 mi mensais, fora benefícios. Já, o comércio fica em cerca de R$ 1,2 mil. A cidade perde indústria e não recupera o poder de rede da população com a mão-de-obra sendo migrada para o comércio e serviços.

São Bernardo, segundo o diretor da Agência de Desenvovimento Econômico, Aroaldo Oliveira Silva, precisa buscar um novo perfil. O setor tecnológico pode ser uma alternativa, como apontou o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Mauro Miaguti.

Entretanto, os dois ressaltam que esta busca precisa ser imediata, pois a cidade já perdeu o timing para trabalhar na tranquilidade.

 

Foto: Divulgação

 

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